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O Palace Hotel é uma edificação neomanuelina, construída entre 1888, ano da aprovação do projeto de Luigi Manini, e 1907.
Já depois da Extinção das Ordens Religiosas, D. Maria Pia pretendeu criar neste espaço um palácio real, que rivalizasse com a Pena, mas os planos acabaram por não se concretizar e o então Ministro das Obras Públicas, Emídio Navarro, muito ligado ao Bussaco, propôs a construção de um palácio do Povo, ou seja, um hotel (ANACLETO, 2004, p.66). Para tal, encarregou o cenógrafo Luigi Manini, que terminou as primeiras aguarelas em 1886. O plano foi aprovado em 1888 e as obras tiveram início ainda nesse ano. A antiga igreja, em torno da qual se encontravam as primitivas celas, foi conservada no seio do novo edifício, bem como algumas das estruturas conventuais. Manini inspirou-se na Torre de Belém e no Claustro dos Mosteiro de Santa Maria de Belém, para criar no Buçaco uma obra que não pode ser considerada apenas como um neo, mas sim como uma recriação eclética que denota aspetos historicistas, mas pouco relacionados com o retorno ao passado ou a ideias românticas (ANACLETO, 2004, p.66).
Salientam-se ainda alguns dos nomes ligados a esta grandiosa obra, como foram os arquitetos Nicola Bigaglia, José Alexandre Soares e Manuel Joaquim Norte Júnior, este último responsável, em 1905, pelo projeto da denominada Casa dos Brasões. A partir de 1903, foram contratados diversos artistas para decorar os interiores do Hotel, entre os quais se encontram os pintores António Ramalho, Carlos Reis, João Vaz, o pintor de azulejo Jorge Colaço (que executou, entre outros, os painéis do vestíbulo, alusivos à Batalha do Buçaco), e o escultor Costa Motta Sobrinho, responsável pelos grupos escultóricos da Via Sacra.
Luigi Manini, cenógrafo no Teatro Scala de Milão, chega a Portugal em 1879 para ocupar o cargo de cenógrafo do Teatro de São Carlos. Em 1888, contava quarenta anos, Emídio Navarro convida-o a projetar um palacete de caça para a família real, a construir na serra do Buçaco. Manini projetou um palácio em estilo neomanuelino. O Palácio do Buçaco deu trabalho a outros artistas, como Norte Júnior e Nicola Bigaglia, este de origem veneziana, que executaram as pinturas decorativas, e o escultor J. Machado. Nesta obra teve especial relevo o contributo da Escola Livre das Artes do Desenho de Coimbra, donde provinham os mestres canteiros que trabalharam no Bussaco.
Outra obra emblemática de Luigi Manini em Portugal é a Quinta da Regaleira, em Sintra, cujo projeto teve início em 1904.
Para além das obras já mencionadas, Manini concebeu o Challet Mayer, a Vila Sassetti, e a casa do jardineiro da Quinta Biester, atualmente designada Vila Relógio, em Sintra. Em 1913, Manini regressa a Itália, falecendo em Brescia a 29 de Junho de 1936, com 88 anos de idade.
Assina a Casa dos Brasões do Palace Hotel do Bussaco.
Das suas obras mais conhecidas destacam-se o Teatro Variedades, o Café Nicola e a Villa Sousa, em Lisboa e o Palace Hotel da Curia. Foi o recipiente de 5 Prémios Valmor.
Assina a Casa dos Cedros do Palace Hotel do Bussaco
Nicola Bigaglia, um prestigiado arquiteto veneziano, radicou-se em Portugal em 1888, com o intuito de vir dar aulas de Modelação Ornamental na Escola Afonso Domingues.
Recebeu um Prémio Valmor pelo Palácio Lima Mayer, em lisboa, tendo também assinado o Palácio Lambertini, e o Palácio Val Flor, ambos em Lisboa.
Foi – e ainda é – vasto e rico o património do Bussaco. De todo ele, a azulejaria merece lugar de destaque, por se tratar de uma arte das mais populares e mais genuinamente portuguesa, mas sobretudo porque se encontra aqui representada, em qualidade e até em diversidade, em dois períodos distintos.
Os frontais de altar, produção do segundo e do terceiro quartel do século XVII, aplicado na igreja e nas construções adjacentes, bem como nas capelinhas semeadas na mata e que terão sido provenientes de Talavera de la Reina, com os que estão na capela do Ecce Homoe nas capelas devocionais de S. João da Cruz, S. Pedro e Sta. Maria Madalena e, ainda, os frontais (de ramagens) da igreja e do claustro e os das capelas de S. João no Deserto e de S. José. Note-se, no entanto, que a importância do Deserto do Buçaco no “corpus” da azulejaria nacional, desta época não resulta da monumentalidade ou das grandes superfícies azulejadas. Bem pelo contrário, o lugar de grande relevo que indiscutivelmente lhe é reconhecido, advém-lhe de para aqui terem vindo – e em grande parte, ainda se conservarem, “os mais representativos painéis para frontais e altares em Portugal”, como escreveu Santos Simões, considerando que se trata de “um núcleo sui géneris e paradigmático”. De facto, apesar da destruição e abandono a que o deserto foi votado pelo século XIX (desde a batalha de 1810 e com a extinção das ordens religiosas) como pelo século XX (até com a construção do palácio), chegou ao nosso tempo uma boa dezena e meia de frontais, para além de existirem, nas cercanias do Bussaco, restos diversos, reaplicados ou não, que devem ser identificados com este conjunto.
Azulejaria “historicista e nacionalista” no Palace Hotel, da autoria de Jorge Colaço, como os “dez painéis de inspiração camoniana”, nas janelas-portais da galeria nas alas nascente e norte, e no extremo sul; os painéis do “hall” de entrada e do vão da escadaria, sobre temas da Guerra Peninsular e da Batalha do Bussaco, ou da epopeia marítima dos portugueses, com três cenas da partida para a Índia, – a conquista de Ceuta e a tomada de Goa, no interior;
Nos últimos anos do século XIX e primeiros do século XX, afirmaram-se novos rumos para o azulejo, de que o Palácio da Pena (Sintra) e o Palace Hotel do Buçaco podem ser exemplos, este, mais historicista e acentuadamente nacionalista, onde os azuis e brancos são predominantes, com fortes incursões arte-nova, particularmente em cercaduras de belo efeito cromático.
Fonte: Amaro Neves,1992